Recebi alguma coisa sobre as ditas revelações à mística e estigmatizada Marie Julie Janhenny (1850 - 1941) que, a meu ver, precisa de alguns esclarecimentos. Na foto podemos ver Marie Julie durante um êxtase. Citarei apenas uma das suas "profecias" que me enviaram, dando um comentário de acordo com o Dogma de Fé na Indefectibilidade da Igreja e na Infalibilidade do Romano Pontífice.
Uma das "profecias" a ela atribuída é mais ou menos como segue:
"Em 27 de novembro de 1902 e 10 de maio de 1904, Nosso Senhor e Nossa Senhora anunciaram a conspiração para inventar a “Missa Nova”:
“E os ADVIRTO. Os discípulos que não são do Meu Evangelho estão trabalhando duro para refazê-lo segundo as suas idéias e sob a influência do inimigo das almas uma MISSA que conterá palavras que são ODIOSAS à minha vista”.
“Quando chegar a hora fatídica quando os meus sacerdotes serão postos à prova, serão (estes textos) os que serão celebrados neste SEGUNDO período… O PRIMEIRO período é o do Meu sacerdócio que existe desde que Eu o fundei. O SEGUNDO é o da perseguição, quando os inimigos da Fé e da Santa Religião, que imporão suas fórmulas, no livro da segunda celebração… Esses espíritos infames são aqueles que Me crucificaram e estão esperando o reinado DO NOVO MESSIAS."
Comentário:
Primeiramente devemos ter em mente que toda interpretação deve estar de acordo com os Dogmas da Fé Católica. Qualquer interpretação que contraste com o Dogma de Fé só tem duas hipóteses: ou é falsa a revelação privada ou é falsa a interpretação.
Mas neste caso me parece que as revelações particulares à Marie Julie apresentam motivos de credibilidade bem consistentes.
A mensagem acima foi traduzida de sua língua original e me parece que a tradução não é muito bem feita. Então a essa tradução já carece de credibilidade. Mas vamos lá, suponhamos que esteja certa a tradução, que seja realmente isso que a mística e estigmatizada Marie Julie disse e quis dizer. Procuremos então entender o que está escrito, examinando para ver se não há nada nesta mensagem que contradiga a Fé Católica.
Alguns tradicionalistas procuram tirar dessa profecia sua rejeição pela Missa do Papa Paulo VI, mas estaria realmente a Nova Missa sendo criticada nesta profecia?
A esta questão respondemos que não: essa profecia, embora pareça, não ataca a Nova Missa de Paulo VI. Não, não ataca, e para que tenha procedido de Deus essa profecia, necessariamente não pode condenar e nunca poderá condenar a Missa de paulo VI, sob pena de colocar Deus em contradição.
O tipo de linguagem dessa profecia me parece não o das aparições, como as de Fátima e de Lourdes, onde Nossa Senhora apareceu realmente para as criancinhas. Me parece que este tipo de linguagem é de cogitações, onde a pessoa que se diz ou é mística atreve-se a atribuir a Deus ou a Nossa Senhora o fruto de suas meditações e impressões interiores. As profecias de Marie Julie, se não foram forjadas, se realizaram, mas ela pode ter feito uma descrição pessoal de suas visões ou contemplações místicas, misturando suas impressões pessoais com o conhecimento daquilo que lhe foi mostrado, ou seja, ela pode ter relatado suas visões de acordo com o seu modo de entender e assimilar as coisas.
Isto posto, segue-se que pode ser verdadeira a visão, mas falsa a sua interpretação. Ou seja, é possível que Marie Julie tenha passado suas próprias interpretações juntamente com as visões, o que pode conduzir a erros de interpretação, pois "os nossos pensamentos não são os pensamentos de Deus", como diz a Escritura.
Há erros de tradução no texto, infelizmente não domino a língua para indicá-los, mas é notável.
Primeiramente ela diz: "Os advirto". Essa advertência será sobre a mudança que futuramente haverá na forma litúrgica da Santa Missa. Ela previu que os inimigos de Cristo trabalhariam duro para refazer o Evangelho e a Missa conforme suas idéias e sob influência do inimigo das almas. Ela disse que essa Missa futura "conterá palavras que são odiosas à Minha vista."
A visão é dividida em dois períodos: o primeiro teria sido o do Sacerdócio de Cristo, o segundo o da perseguição, quando os inimigos da Fé e da Santa Religião imporão as suas fórmulas no livro da segunda celebração.
Lendo atentamente o texto com uma tradução cheia de erros de gramática, de concordância, etc., notar-se-á que nas palavras do chamado segundo periodo há algo que fica claro e permite que essas revelações sejam interpretadas de acordo com o dogma de indefectibilidade da Igreja, etc.
Primeiramente deve-se observar que as profecias dela não condenam, como muitos querem, a Nova Missa promulgada pelo Papa Paulo VI, mas se bem observado condena sim os abusos contra a Nova Missa.
Marie Julie descreveu a dessacralização da Santa Missa, que seria feita por aqueles que a celebram sem nenhuma fé nem piedade. Já em La Salette Nossa Senhora havia reclamado dessa dessacralização da Liturgia, quando advertiu que os sacerdotes seriam castigados "por sua impiedade na celebração dos santos mistérios". No tempo de La Salette a Missa era na forma hoje chamada Extraordinária. Portanto, as palavras odiosas e as novas fórmulas não são nem podem ser as do Rito da Missa. Ora, assim como no tempo de La Salette o Rito impiedosamente celebrado era Santo, também em nosso tempo o Novo Rito impiedosamente modificado e celebrado é igualmente Santo.
É santa a forma tanto extraordinária como ordinária do Rito Romano, mas o culto dessas formas pode não ser santo.
O culto é a maneira como celebramos ou usamos estas formas santíssimas que o Espírito Santo nos oferece através da Igreja, como muito bem ensinou o Papa Bento XVI numa de suas catequeses. Podemos usar as formas santíssimas da Igreja com ou sem fé nem piedade. O nosso culto pode ser com ou sem fé e piedade. A Missa pode ser celebrada com ou sem fé e piedade. Qualquer Rito da Igreja Latina ou Oriental pode ser celebrado (cultuado) com ou sem fé e piedade. A Nova Liturgia da Missa, que na sua Edição Típica Vaticana é isenta de todo e qualquer erro, é vítima de vários abusos que a dessacralizam, abusos esses que o Papa Bento XVI se esforçou por corrigir em seu glorioso pontificado. Somente o que é profundamente sagrado pode ser dessacralizado. Ora, a dessacralização não está na forma, mas na pessoa que celebra, assim como a impiedade lamentada por Nossa Senhora em La Salette não estava na forma, mas na pessoa que atuava sem fé nem piedade. Os inimigos da Fé e da Santa Religião imporão as suas fórmulas "no livro da segunda celebração." Ora, impor "suas" fórmulas é não seguir o que está nos novos livros, não seguir a liturgia, o que está escrito no Novo Missal. Impor as "suas" fórmulas é tirar ou acrescentar algo do Novo Missal.
Um dos abusos litúrgicos atuais, que o Papa Bento XVI se esforço por corrigir, durante seu glorioso pontificado, é que não se seguemais o que está prescrito no Novo Missal. Assim, por exemplo, substituem o ato penitencial, o glória, o santos, etc., que está no Missal, por uma outra música qualquer ao som de instrumentos que não favorecem a concentração e o recolhimento interior. Quando a equipe de liturgia, que deveria ser especialista em liturgia, troca as orações prescritas do Missal por músicas que parodeiam as fórmulas santas, ao som de instrumentos que não são considerados sacros, estão na verdade adulterando a Liturgia e impondo suas próprias fórmulas em cima de um Rito Santo. Por em cima de equivale a pisar em cima de, razão pela qual muitos por não gostarem das fórmulas da Igreja inventam as suas próprias fórmulas. Só que com as formas da Igreja é possivel rezar, ao passo que com as formas da equipe litúrgica só é possível dançar. Rezar não é dançar. Dançar não é rezar.
A fórmula da Igreja, que está no Missal Tridentino, no Missal de Paulo VI, e no Missal da igreja Oriental, é santa, santíssima, mas a fórmula inventada por terceiros e quartos não é santa, é feia, vazia, sem nenhum conteúdo que nos una a Deus, antes nos separa de Deus porque nos enche de vazio. É deste culto sem nenhuma arte, sem piedade, sem fé, que Marie Julie lamentou a dois séculos atrás. Não reclamou da Missa do Papa Paulo VI, mas daqueles que não souberam ou não quiseram usar bem dela, assim como também Nossa Senhora de La Salette, que naquela época não reclamou da Missa Tridentina, mas da forma impiedosa como era celebrada.
Santas são as fórmulas da Igreja, mas impiedoso pode ser o nosso modo de celebrá-las.
In Iesu.
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