sábado, 29 de novembro de 2014

JESUS É CONDENADO À MORTE POR TER DEFENDIDO A RADICALIDADE DA MISERICÓRDIA

JESUS É CONDENADO À MORTE POR TER DEFENDIDO OS PECADORES E ANDADO COM ELES.




Nosso Senhor Jesus Cristo é condenado à morte por ter defendido a radicalidade da misericórdia para com os pecadores.
Foi debochado e desprezado porque defendeu a remissão dos pecados na radicalidade.
Na imagem da cena do filme de Mel Gibson que mostra Jesus no Sinédrio podemos ver muito bem expressado na arte cinematográfica a aparência e as atitudes dos que se proclamam defensores da Lei e da moral, dos 99 justos que não têm necessidade de penitência.
Esses homens podem ser irrepreensíveis só no mundo dos negócios, mas no mundo de Deus falta-lhes o essencial.
A aparência de Jesus é a de um Deus Bom, cheio de Amor e de Misericórdia, mas a aparência desses 99 justos é a de pessoas não boas ("de gente non sancta"), justas, mas sem o amor.
A aparência desses homens é a de pessoas más, sem caridade, sem amor, sem vida.
Jesus, ao contrário, é a vida, porque é um Deus Bom que não quer a morte do pecador, mas que se converta e tenha a vida.
Os Fariseus, pelo contrário, são a morte, porque neles não se encontra o perdão, nem a misericórdia, nem a bondade, neles encontra-se a condenação e a morte.
Eles condenaram a Jesus de Nazaré, eles condenam ainda hoje.
O Papa Francisco é condenado por se posicionar a favor da misericórdia pelos divorciados, homossexuais, etc.
Por ter defendido a misericórdia na sua radicalidade como último remédio de salvação e de conversão para esses pecadores, Francisco passou a ser acusado de herege e falso Papa por uma grande maioria de Católicos no mundo todo.
Até mesmo alguns místicos ou místicas levantaram-se contra ele dizendo que é um impostor e até mesmo o anticristo das profecias.
Alguns eclesiásticos estão classificando Francisco como o preferido da mídia, fazendo eco à umas profecias e comentários do Padre Emanoel André sobre os últimos tempos, etc., que dizem que o anticristo gostará muito dos aplausos, de aparecer, de ser notícia, etc., e que agradará aos judeus, muçulmanos, budistas, etc.
Isso na verdade mais serve para revelar e desmascarar esses falsos místicos, falsos profetas, que aparentando ser anjos de luz, na verdade trazem o erro e as trevas para dentro da Igreja.
Não é verdadeira nenhuma Revelação Particular que coloque em dúvida o Magistério e a legitimidade do Papa Francisco.
Jesus Cristo já nos alertou contra esses falsos videntes ao dizer: "Quando vos disserem: eis aqui o Cristo, ou ei-lo acolá, eis que ele está no deserto, não deis crédito."
É no Papa que devemos crer antes de tudo, não nos falsos profetas que lutam contra ele.
Condenarão a Jesus de Nazaré por Ele ser Bom, por Ele ser Misericordioso.
Do mesmo modo, porque o "discípulo não é maior do que seu Mestre", condenam o Papa Francisco, porque ele é o Papa da radicalidade da misericórdia.
Seu amigo, o Cardeal Kasper, pergunta, num de seus escritos: " A final de contas: nós cremos ou não cremos a remissão dos pecados?!"
Cremos ou não cremos a remissão dos pecados???
Na jaculatória que o Anjo ensinou em Fátima: "Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos; peço-Vos PERDÃO para os que não... etc.", está ou não consignada a doutrina de Francisco?
Quais são as consequências lógicas e teológicas que podemos tirar dessa oração jaculatória.
É uma oração com ou sem ensinamento?
In Iesu.
  

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

DAS REVELAÇÕES DE SANTA BRIGIDA LIVRO 1 CAP. 16





Como a esposa viu um santo falando com Deus sobre uma mulher que havia sido terrivelmente afligida pelo demônio e que depois se converteu graças às orações da gloriosa Virgem.
Livro 1 - Capítulo 16
A esposa viu que um dos santos dizia a Deus: “Porque o demônio está afligindo a alma desta mulher que tu redimiste com teu sangue? O demônio contestou de imediato dizendo: “Porque é minha por direito.” E o Senhor disse: "Com que direito é tua?” O demônio lhe respondeu: "Há – disse – dois caminhos. Um que conduz ao Céu e outro ao inferno. Quando ela se viu frente a esses dois caminhos, sua consciência e razão lhe disseram que escolhesse meu caminho. Como tinha livre vontade para escolher o caminho de seu agrado, pensou que seria mais vantajoso dirigir sua vontade para o pecado, e assim, começou a caminhar por minha trilha. Depois, a enganei com três vícios: a gula, a cobiça pelo dinheiro e a luxúria. Agora habito em seu ventre e em sua natureza. Tenho-a presa por cinco mãos. Com uma mão lhe fecho os olhos para que não veja coisas espirituais. Com a segunda, sujeito suas mãos de forma que não possa fazer nenhuma boa obra. Com a terceira lhe sustenho os pés, de maneira que não caminhe para a bondade. Com a quarta, sujeito seu intelecto para que não se envergonhe de pecar e, com a quinta lhe prendo o coração para que não sinta contrição”. A bendita Virgem Maria disse então a seu Filho: "Filho meu, faça com que ele diga a verdade sobre o que eu quero lhe perguntar.” O Filho respondeu: "Tu és minha Mãe, és a Rainha do Céu, és a Mãe da misericórdia, o consolo das almas do purgatório, a alegria dos que peregrinam pelo mundo. És a Soberana dos anjos, a criatura mais excelente diante de Deus. Também és Soberana sobre o demônio. Ordena tu mesma a este demônio, Mãe, e ele te dirá o que quiseres”. A bendita Virgem perguntou então ao demônio: "Diga-me, Satanás, que intenção tinha aquela mulher antes de entrar na Igreja”? Satanás lhe respondeu: "Tomou a resolução de não voltar a pecar”.
E a Virgem Maria lhe disse: "Embora sua intenção anterior a conduzisse ao inferno, diga-me, em que direção aponta sua atual intenção de afastar-se do pecado?” O demônio lhe respondeu com raiva: "A intenção de abster-se de pecar a conduz para o Céu”. A Virgem Maria disse: "Como tu entendeste que era teu direito afastá-la do caminho da Santa Igreja devido a sua intenção anterior, agora é questão de justiça que deve ser conduzida de volta a Igreja, dada sua presente intenção. Agora demônio, vou te fazer outra pergunta: Diga-me, que intenção tem em seu atual estado de consciência?” O demônio lhe respondeu: "Em sua mente está terrivelmente contrita e arrependida, chora por tudo o que fez. Decidiu nunca mais cometer pecados semelhantes e emendar-se em tudo o que possa”. A Virgem, então, perguntou ao demônio: "Poderia dizer-me se os três pecados de luxúria, gula e cobiça podem existir em um coração junto às suas três boas resoluções de contrição, arrependimento e propósito de emenda?” O demônio respondeu: "Não”. E a bendita Virgem disse: "Me dirás então, quais têm que retroceder e sair de seu coração, as três virtudes ou os três vícios, que, segundo tu, não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo?” O demônio replicou: "Digo que os pecados”. E a Virgem falou: "O caminho do inferno está então fechado para ela e o caminho do Céu está aberto”. De novo, a bendita Virgem Maria inquiriu ao demônio: "Diga-me, se um ladrão arrombar as portas da esposa e quiser violá-la, que teria que fazer o Esposo?” Satanás respondeu: "Se o Esposo é bom e valente, deve defendê-la arriscando sua vida por ela.” Então, a Virgem disse: “Tu és o ladrão malvado. Esta alma é a esposa de meu Filho, que a redimiu com seu próprio sangue. Tu a corrompeste e a atacaste à força. Portanto, e posto que meu Filho é o Esposo de sua alma e Senhor sobre ti, retira-te de sua presença”.
EXPLICAÇÃO
Esta mulher era uma prostituta, que depois de arrepender-se quis voltar ao mundo porque o demônio a molestava dia e noite, tanto que visivelmente pressionava seus olhos e, diante de muitos, a arrastava fora de sua cama. Então, na presença de testemunhas fiéis, a santa dona Brígida disse abertamente: ”Saia, demônio, tens já vexado bastante a esta criatura de Deus”. Depois de dizer isso, a mulher se aquietou por meia hora, com os olhos fixos no solo e, depois se levantou e disse: ”Na verdade eu vi o demônio em uma forma abominável saindo pela janela e ouvi sua voz que me dizia: ”Mulher, verdadeiramente estás livre”. Desde esse momento, esta mulher, venceu toda impaciência, cessaram seus sórdidos pensamentos e veio a descansar em uma boa morte.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A JACULATÓRIA ENSINADA POR NOSSA SENHORA EM FÁTIMA

NOSSA MISSÃO NESTA VIDA É AMAR!
 Numa das aparições em Fátima, Nossa Senhora ensinou às três criancinhas uma belíssima oração jaculatória cheia de sentidos e ensinamentos sublimes.
A oração ensinada por Nossa Senhora é: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, e socorrei principalmente as que mais precisarem. Amém."
Nossa Senhora ensinou essa oração logo após a visão do inferno, que encheram de pavor as criancinhas, mas muito mais que isto, essa visão encheu os coraçãozinhos deles de muita compaixão, que outra coisa não é que a Caridade num dos seus mais altos níveis.
A beata Jacinta tinha muita pena daquelas almas que viu sofrerem no fogo do inferno, e redobrava suas orações e penitências para livrar do inferno o maior número possível de almas.
Depois que Nossa Senhora lhes mostrou o terrível inferno, disse para eles rezar e fazer penitência pelos pobres pecadores, porque vão muitas almas para o inferno porque ninguém reza nem se sacrifica por elas.
Nossa Senhora estava ensinando às criancinhas o amor pelo próximo, e uma fé inabalável na infinita Bondade de Deus.
Alguns teólogos, ao examinarem a visão do inferno, disseram que essa visão não podia ser realmente do inferno, porque Nossa Senhora disse que para livrar aquelas almas do inferno viria pedir a devoção a seu Imaculado Coração, mas seria uma profecia do terrível estado de alma das pessoas que viveriam nos séculos XX e XXI, pois Nossa Senhora afirmara que para livrar elas do inferno seriam necessários a oração, a penitência e a devoção a seu Imaculado Coração.
Cogitaram em profecia, porque a doutrina Católica ensina que quem cai no inferno nunca mais sai daquele lugar, ao passo que depois da visão Nossa Senhora fala na possibilidade de livrar do inferno essas pobres almas. 
A visão do inferno mostra uma realidade totalmente pessimista que a Igreja enfrentaria nos séculos vindouros.
De fato, para alguns, está tudo perdido hoje, o pecado reina em toda parte, e os católicos praticantes são tentados ao pessimismo e a julgar que está tudo perdido, que todo mundo está para sempre condenado ao inferno, o que não é verdade, pelas conclusões lógicas e teológicas que podemos tirar da visão e da mensagem de Nossa Senhora de Fátima. 
Contra o pessimismo Nossa Senhora oferece a oração e a penitência como solução para todos os problemas espirituais e materiais dos séculos XX e XXI. 
Nossa Senhora ensina e propõe a Caridade como a solução e salvação do mundo nos séculos de profundas trevas espirituais que viriam após as grandes revelações marianas do século XX, em Fátima.
Ao mostrar o inferno enche o coração das criancinhas de muita compaixão e de muita pena dos pobres pecadores, e eles são movidos a rezarem e a se penitenciarem mais do que o normal pela conversão dos pecadores, para livrar eles do terrível e temível inferno. Ora, isso nada mais é que amor ao próximo, ou seja, Caridade. E a Caridade é o Mandamento do Senhor, o Novo Testamento de Jesus Cristo.
Em Fátima Nossa Senhora revela o Amor de Deus como a solução para a salvação da humanidade mergulhada no ódio e no pecado.
Em Fátima Nossa Senhora deixou um recado para os cristãos que viveriam em meio a essa grande crise, esse recado era para que eles permaneçam inabaláveis no Amor de Deus, que creiam firmemente no Amor de Deus por todos e por tudo, que em Deus só há Amor, aliás, Ele mesmo é Amor.
A mensagem de Fátima nos pede para não nos deter no pessimismo, mas quando se encontrar com essa situação, prosseguir avante no Amor, passando para um otimismo heroico e extraordinário de que Deus no fim tudo e a todos salvará, se nós, deixando que Deus nos encha de seu amor e misericórdia, rezemos e façamos penitência pela salvação de todos os pecadores de nosso tempo, principalmente daqueles que podem ser contados já em vida entre o número dos proscritos. 
Não mostrou o inferno para que tenhamos medo do inferno, mas para que tenhamos amor pelo próximo, para que rezemos e nos sacrifiquemos uns pelos outros, para que tenhamos fé no infinito Amor de Deus.
Na Encíclica Lumen Fidei o Papa Francisco professa que nós cremos no Amor de Deus. Sim, é nesse Amor que devemos crer. 
Esse Amor e a fé no Amor de Deus é ensinada por Nossa Senhora na sua oração jaculatória, que Ela teve a imensa bondade de nos ensinar em Fátima, procuremos examinar bem o sentido dessa oração.
Ela disse, ensinando: "Rezai assim: Ó meu Jesus"... Nos apresenta e nos coloca na presença de Jesus, seu Divino Filho. Eleva nossas almas a Deus, fazendo-nos falar com seu Filho. Ora, quem se dirige à Deus, pedindo alguma coisa, deve crer que Deus concederá aquilo que é pedido, nessa oração Nossa Senhora nos ensina a pedir a Jesus o perdão dos pecados para nós e para as outras pessoas, quando acrescenta; "... perdoai-nos,...".
Nossa Senhora tem certeza absoluta que Jesus quer perdoar a todas as pessoas que nessa visão as criancinhas as viram no inferno. Se Jesus quer perdoar a todos, é sinal que Ama a todos, mesmo à esses que os bons católicos correm o risco de julgar já para sempre condenados nos séculos XX e XXI, por causa da vida pública de pecados e de ateísmo prático e teórico que viriam a viver nesses séculos de trevas. Ainda continua, dizendo: "... livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, socorrei principalmente as que mais precisarem."
Deus se comunica na oração. Isso quer dizer que se na oração pedimos a Deus para nos perdoar, Ele nos perdoa, e nos comunica o seu perdão, para que também nós possamos juntamente e em comunhão com Ele perdoar as pessoas por quem rezamos. 
O fruto da oração de Fátima é a prática do perdão divino, uma comunhão com o Cristo sofredor e moribundo na Cruz, quando orou ao Pai, dizendo: "Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem."
Nesse sentido a oração de Fátima deve se transformar em vida em nossos corações, de tal forma que nos faça ser para os outros o que Nossa Senhora ensinou a pedir nessa belíssima oração: perdão e misericórdia para com nosso próximo, e para com o mundo inteiro.
Essa doutrina de Fátima nós a encontramos no Papa Francisco e no Papa Emérito Bento XVI, nos Santos João Paulo II e São João XXIII, recentemente canonizados pelo Papa Francisco.
Em nada é diferente do conteúdo dessa oração as máximas de Francisco, no inicio de seu Pontificado: "Deus perdoa sempre!" e "Deus não se cansa de perdoar!"
Se Deus é perdão, a Caridade mais excelente, como disse Nossa Senhora Rosa Mística à Serva de Deus, Pierina Gilli, também é verdade que Ele quer nos transformar nessa virtude que O qualifica, razão pela qual podemos muito bem afirmar juntamente com o Papa Francisco que "a Igreja nunca esteve melhor como hoje", pois nunca como hoje é possível praticar sem sessar a virtude tão excelente do perdão ao próximo, e assim podermos compreender um pouquinho daquilo que disse São João da Cruz que "Deus tem prazer em perdoar!"
São João Paulo II, pouco antes de morrer, disse: "Só a Caridade salva e converte!"
Nossa missão é, portanto, como revelou Deus à Glória Polo, a de ser Apóstolos do Amor de Deus.





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O MILAGRE DAS HÓSTIAS


HÓSTIAS CONSAGRADAS LEVANTAM-SE POR SI MESMAS CONTRA A COMUNHÃO NA MÃO.



           "Uma das mais sérias e respeitáveis publicações religiosas da Itália, que se edita em Bréscia, sob responsabilidade do notável sacerdote doutor Luigi Villa e do famoso professor Dietrich von Hildebrand, autor de "O Cavalo de Troia na cidade de Deus", divulga em seu numero de Junho de 1973 um extraordinário fato, que parece realmente um grande milagre eucarístico. Meus leitores o conhecerão agora e tirarão suas próprias conclusões. Diz a revista "CHIESA VIVA":
             "No dia 2 de julho de 1970, um padre insuspeito e muito digno, escrevia-nos uma carta contando um fato extraordinário de hóstias consagradas que se levantaram do cibório por si mesmas.
             Num desses últimos domingos, (21 ou 28 de Junho/70), na missa paroquial das 7 horas, na Igreja de Beauceville, no Canadá, o pároco Dom Carlo Eugene Houde, de aproximadamente 50 anos, celebrava a Santa Missa. Avisara que, daquela data em diante, os fiéis tinham permissão de comungar recebendo a Santa Hóstia na mão, segundo determinação do Arcebispo de Quebec. Antes da Missa, havia dito a seus paroquianos palavras  mais ou menos assim: "Para evitar complicações e diferenças, todos deveis comungar recebendo a Santa Hóstia na mão."
             Ao momento da comunhão, o Sacerdote Dom Houde dirigiu-se ao povo, com a âmbula nas mãos, mas antes que tomasse a primeira Hóstia para entregá-la ao comungante, eis que umas 50 partículas consagradas saíram por si mesmas do cibório e, erguendo-se no ar, se dispuseram em semi-circulo em torno do celebrante. Passados alguns instantes, foram caindo lentamente em terra, pousando no pavimento junto ao altar. Dom Houde ficou totalmente surpreendido diante daquela maravilha e quedou-se aterrado e mudo, pálido e imobilizado de espanto.
             Quando se refez da profunda emoção, internamente inspirado disse aos fiéis também atônitos, que se aproximavam para comungar: "Dora em diante, todos comungareis recebendo a Santa Hóstia sobre a língua e nunca sobre a mão, pois o bom Deus se dignou dar-nos um vivo sinal!" E inclinando-se respeitosamente, recolheu as Hóstias dispersas sobre o tapete e distribuiu contritamente a Santa Comunhão. E sempre repetia: "Jamais em minha vida darei a comunhão nas mãos!"
            O Senhor quis mostrar que a comunhão na mão equivale a lançar a Santa Hóstia por terra, porque são incontáveis os fragmentos que caem das mãos dos comungantes e se perdem pelo chão ou se prendem nos vestuários. Eis porque a Igreja sempre exigiu o uso da pátena para recolher cuidadosamente as minúsculas partes que contém realmente o Corpo de Cristo. Por isso mesmo, as rubricas prescrevem que o celebraste recolha os fragmentos do corporal e da pátena e, depois de os consumir ele próprio, purifique os dedos, para evitar qualquer profanação ou sacrilégio.". (Chiesa Viva - Junho/73).
    

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

"HERMENÊUTICA DA REFORMA NA CONTINUIDADE" EM SÃO JOÃO DA CRUZ (III)

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"HERMENÊUTICA DA REFORMA NA CONTINUIDADE" NA DOUTRINA DE SÃO JOÃO DA CRUZ

      As contradições que encontramos na palavra de Deus presente na Sagrada Escritura, no Magistério Vivo da Igreja, etc., são materiais e não formais. Se alguém encontrar alguma contradição nos Documentos da Igreja, tais contradições podem ser do intérprete, e não da Igreja, podem estar na letra mas não no espírito da Igreja.
      Continuação:

     "7. Não havemos de reparar, portanto, em nosso sentido e linguagem quanto às revelações divinas, sabendo que o sentido e linguagem de Deus são muito diferentes do que pensamos, e difíceis para o nosso modo de entender. De tal maneira assim é que Jeremias, sendo profeta de Deus, parecia não compreender a significação das palavras do Onipotente, tão diversas do comum sentir dos homens, e pondo-se ao lado do povo, exclama: "Ai, ai, ai, Senhor Deus. É possível teres enganado a este povo e a Jerusalém, dizendo-lhes: Vos tereis a paz, e eis agora lhe chega a espada até a alma?"(Jr. 4,10). Ora, a paz prometida pelo Senhor ao seu povo era a aliança entre ele e o gênero humano por intermédio do prometido Messias; e os israelitas a entendiam no sentido de uma paz temporal. Por isto, quando tinham guerras e trabalhos, logo lhes parecia Deus enganá-los, pois sucedia o contrário do que esperavam. E então diziam por Jeremias: "Esperamos a paz, e este bem não chegou" (Ibid. 8,15). Era impossível deixar de caírem no erro, porque se guiavam unicamente pelo sentido literal. Quem, com efeito, não ficaria confundido, entendendo ao pé da letra esta profecia de Davi sobre Cristo em todo o Salmo 71, e, particularmente, por estas palavras: "E dominará de mar a mar, e desde ao rio até aos confins da redondeza da terra"(Sl 71,8). E mais adiante: "Porque livrará o pobre que o invoca e o mísero que não tem ajuda?"(Ib. 12). E, a par destas palavras, vendo Nosso Senhor nascer na obscuridade, viver em pobreza e não somente não reinar como dominador na terra, mas se submeter aos caprichos da populaça mais vil, até ser condenado à morte sob o governo de Pôncio Pilatos? E, ao invés de livrar seus discípulos da opressão dos poderosos da terra, permitir que fossem mortos e perseguidos por seu nome?

      "8. É que essas profecias deviam ser compreendidas espiritualmente de Cristo, e deste modo eram absolutamente verdadeiras. De fato, Cristo não é apenas rei da terra, mas do céu, porque é Deus; e aos pobres que o haviam seguido, não somente havia de remir e livrar do poder do demônio (o mais forte inimigo, contra o qual não tinham até então defesa), mas faria, desses pobres, herdeiros do reino celeste. E assim falava Deus segundo o significado principal, isto é, de Cristo e seus sequazes, de reino eterno e liberdade eterna. Mas os judeus não entendiam assim as profecias; visavam nelas o menos principal, do qual Deus faz pouco caso: pensavam em reino temporal e liberdade temporal, que aos olhos de Deus nada valem. Cegos pela baixeza da letra e não compreendendo o espírito e verdade nela encerrados, tiraram a vida a seu Deus e Senhor segundo disse S. Paulo: "Os que habitavam em Jerusalém, e os príncipes dela, não conhecendo a este, nem as vozes dos profetas, que cada sábado se leem, sentenciando-o, as cumpriram"(At. 13,27)." (Subida do Monte Carmelo - Livro II - Cap. XIX pgs 261-263).

Continua.

   

segunda-feira, 28 de julho de 2014

HERMENÊUTICA DA REFORMA NA CONTINUIDADE (II)

 "HERMENÊUTICA DA REFORMA NA CONTINUIDADE" NA DOUTRINA DE SÃO JOÃO DA CRUZ (II)

       As palavras da Igreja, que também são palavras de Deus, poderão, as vezes, ser contraditórias na letra, mas nunca em seu verdadeiro sentido.
       Continuação do tema anterior.

      "5. Deste modo e de outros muitos, sobrevém vários enganos às almas, em relação às palavras e revelações da parte de Deus, pelo motivo de se prenderem à letra e à forma exterior; porque, como já demos a entender, o principal desígnio de Deus nessas coisas é declarar e comunicar o espírito ali encerrado e, sem dúvida, difícil de entender. Tal espírito é muito mais abundante que a letra, muito extraordinário e fora dos limites dela. Assim, o que se prender à expressão literal ou à figura ou à forma aparente da visão não poderá deixar de errar muito, achando-se depois bem confuso e desprovido, por se haver muito guiado em tal assunto, segundo o sentido, em vez de dar lugar ao espírito em desnudez dos sentidos. "A letra mata e o espírito vivifica"(2Cort. 3,6), como diz São Paulo. Havemos, portanto, de renunciar à letra que neste ponto são os sentidos, e ficar às escuras na fé, que é o espírito, incompreensível aos sentidos.

     "6. Aí está por que a maior parte dos filhos de Israel, entendendo muito literalmente as palavras e sentenças dos profetas, ao ver que não se realizavam conforme suas esperanças, desprezavam as profecias não lhes dando fé. Chegou esse desprezo a tal ponto, que havia entre eles um ditado popular, quase como provérbio, escarnecendo dos profetas. Disto se lamenta Isaías nestes termos: "A quem ensinará Deus a ciência? E a quem dará a inteligência da sua palavra? Aos que já lhes tirou o leite, aos que acabam de ser desmamados. Eis que todos dizem, por escárnio, dos profetas: Porque manda, torna a mandar; manda, torna a mandar; espera, torna a esperar; espera, torna a esperar; um pouco aqui, um pouco aí. Porquanto com outros lábios e em outra linguagem ele falará a este povo" (Is. 28,9-11). Onde claramente dá a entender o Profeta como o povo fazia burla das profecias e dizia por escárnio o provérbio: espera, torna a esperar, como se as predições de Isaías nunca mais se devessem cumprir. Estavam apegados à letra, que é como leite de criancinhas, e aos sentidos, que são os peitos, contradizendo à grandeza da ciência do espírito. E assim exclamava Isaías: A quem dará ele a inteligência da sua doutrina, senão aos privados do leite da letra e desses peitos dos seus sentidos? Por isto é que não as entendem senão conforme esse leite da aparência exterior e segundo os peitos dos sentidos, aqueles que dizem: Manda, torna a mandar, espera, torna a esperar etc. Pois na doutrina da boca de Deus e não ao modo deles, e noutra língua que lhes é estranha, é que o Senhor lhes quer falar." (Subida do Monte Carmelo - Livro II - pgs 260-261 - Cap. XIX).

     Outra coisa que deveríamos levar em conta é que o leigo não tem a graça própria do estado para interpretar a palavra de Deus, esteja ela na Sagrada Escritura ou no Magistério; essa graça de estado quem a tém , em primeiro lugar, é o Papa, depois os Bispos a ele unidos, e depois os Sacerdotes.
     Os leigos tudo devem submeter ao juízo da Igreja.
     Continua.
     In Iesu.
     

     

HERMENÊUTICA DA REFORMA NA CONTINUIDADE

  "HERMENÊUTICA DA REFORMA NA CONTINUIDADE" DE BENTO XVI NA DOUTRINA DE SÃO JOÃO DA CRUZ (I)
 

 Citamos o texto de São João da Cruz, Doutor da Igreja, onde se encontra a doutrina que, se aplicada, nos leva, na atual situação em que nos encontramos, a concluir pela "hermenêutica da reforma na continuidade" ensinada e defendida pelo Papa Bento XVI.
O título do texto, na Obra de São João da Cruz, parafraseamos mais ou menos como segue:
As palavras da Igreja, embora sempre verdadeiras em si mesmas, podem ser para nós ocasiões de erros.

        Provas tiradas da doutrina de São João da Cruz.

           "Quem falar mal dele seja amaldiçoado; quem dele disser bem seja cumulado de bênçãos!" Da cerimônia da Sagração Episcopal, em uso no Rito Tridentino. Não sei se está em uso no Rito de Paulo VI.
          "... Contemplá-la, à tua bondade, ó bom Senhor, é com efeito minha purificação, é minha confiança, é a justiça." ( Guilherme de Saint - Thierry, in De contemplando Deo, Cap. I, no. 2 - Edições Subiaco, de Dom Bernardo Bonowitz, OCSO).
         A bondade de Deus certamente nos purifica porque  a nós se comunica, tornando-nos também bons e apóstolos de sua bondade. Quem quiser ser puro deve, antes de tudo, crer na bondade do Senhor. E quem recebe em si essa bondade deve retê-la e nela agir, sendo para os outros a bondade de Deus. Essa bondade é redentora e liberta-nos de todos os vícios e pecados e nos introduz na visão de Deus, porque "os puros de coração verão a Deus"(Ev.). Essa bondade de Deus é minha confiança porque sem medo corro aos braços do Pai para receber seu perdão e, depois de perdoado, distribuo também, com Deus e em Deus, esse perdão purificador das almas.
       Agir nessa bondade e tudo fazer em função dela, distribuindo ela aos outros e também a todos, é a justiça que a Deus devemos elevar de um coração purificado.
       Portanto, seja bom quem deseja fazer justiça contra seu irmão, ou melhor: que sua justiça contra quem quer que seja seja tua bondade, que saia do mais profundo do seu ser, e que essa tua bondade seja o próprio Deus que em ti a todos beneficia com a máxima Caridade que Ele mesmo é. Quando na Sagrada Escritura se fala de São José, dele se diz: "Era um homem justo."(Ev.)
      Justo exatamente por ser bom, um vaso da bondade de Deus. São José, rogai por nós.
      Iniciemos a citação do texto de São João da Cruz.

 
                                                                     "CAPÍTULO XIX - LIVRO II - SUBIDA DO MONTE CARMELO
                                          As visões e palavras de Deus, embora verdadeiras, podem ser para nós ocasiões de erros. Provas tiradas da Sagrada Escritura.
               1. Já dissemos como as palavras e as visões divinas, embora sejam verdadeiras e certas em si mesmas, nem sempre o são relativamente a nós, por dois motivos: o primeiro é devido à nossa maneira imperfeita de as entender; o segundo provém de suas causas ou fundamentos algumas vezes variáveis. Quanto à primeira razão, é evidente que Deus sendo infinito e imperscrutável encerra ordinariamente em suas profecias e em suas revelações alguns pensamentos e concepções muito diferentes do sentido que comumente lhes podemos atribuir; e são ainda tanto mais verdadeiras e certas  quanto menos assim nos parecem. Vemos bem esta verdade a cada passo, na Sagrada Escritura; nela lemos que muitos daqueles homens da antiguidade não viam a realização das profecias e palavras de Deus conforme esperavam; porque as tomavam segundo sua interpretação pessoal, e muito ao pé da letra. Isto aparecerá claramente pelos textos seguintes.
               2. No Gênesis, depois de conduzir Abraão à terra de Canaã, Deus lhe diz: "Eu te darei esta terra" (Gn 15,7). Mas Abraão, já velho, não via cumprir-se esta promessa tantas vezes renovada. Certa ocasião em que o Senhor ainda a repetia, o santo Patriarca o interrogou: "Senhor Deus, por onde poderei conhecer que hei de possuí-la?" (Gn. 15,8). Deus, então, revelou-lhe como tal promessa não se realizaria em sua pessoa, mas na de seus filhos, que possuiriam a terra de Canaã 400 anos mais tarde. Compreendeu deste modo Abraão o significado em si mesmo tão verdadeiro: porque sendo dada a terra de Canaã aos seus filhos por amor dele, era o mesmo que lhe dar pessoalmente. Estava, pois, Abraão enganado no seu primeiro modo de entender: se agisse então segundo seu juízo, poderia errar muito, pois a profecia não era para cumprir-se durante a sua vida. E aqueles que conheciam a promessa divina, e virão a Abraão morrer sem vê-la realizada, ficaram confusos pensando ter sido falsa.
              3. Outra prova temos na história de Jacó, seu neto. No tempo da desoladora fome que afligiu o país de Canaã, José fez vir seu pai ao Egito, e, durante a viagem, Deus apareceu a este e lhe disse: "Jacó, Jacó, não temas, vai para o Egito: eu irei para lá contigo, e eu te tornarei a trazer, quando de lá voltares" (Gn. 46,3-4). A profecia não se realizou conforme o sentido literal, pois sabemos que o santo velho Jacó morreu no Egito e de lá não saiu com vida. A profecia devia aplicar-se aos seus filhos, os quais tirou o Senhor dali muitos anos depois, sendo ele próprio o seu guia. Donde, se alguém soubesse desta promessa divina a Jacó, pudera ter por certo que o mesmo Jacó, entrando vivo e em pessoa no Egito por ordem e proteção do Senhor, assim também vivo e em pessoa devia sair dali. Não empregara Deus as mesmas expressões para lhe prometer sua assistência quando tivesse que sair? Quem assim julgasse teria decepção e espanto vendo Jacó morrer no Egito, antes de se realizar a promessa divina. Deste modo, as palavras de Deus, veracíssimas em si mesmas, podem, no entanto, ser ocasião de engano.
              4. Eis um terceiro exemplo, do Livro dos Juízes. Todas as tribos de Israel se reuniram para punir certo crime cometido pela tribo de Benjamim. O próprio Deus lhes indicara um chefe guerreiro e os israelitas certos estavam da vitória; ao se verem vencidos e com vinte e dois mil dos seus jazendo no campo de batalha, muito admirados ficaram. Puseram-se todo o dia a chorar em presença de Deus, não sabendo a causa de sua derrota, pois haviam entendido a vitória por certa. Como perguntassem ao Senhor se deviam ou não voltar ao combate, respondeu-lhes que fossem pelejar. Seguros da vitória, saíram com grande ousadia, mas novamente foram vencidos, perdendo dezoito mil homens. Caíram em grandíssima confusão, não sabendo mais o que fazer, pois, mandando-lhes o Senhor que pelejassem, sempre saíam vencidos; mormente excedendo eles aos seus contrários em número e fortaleza, porque os homens da tribo de Benjamin  não eram mais de vinte e cinco mil e setecentos, enquanto eles formavam um exército de quatrocentos mil. No entento, não os enganara a palavra de Deus; eles, sim, se enganavam no seu modo de entendê-la. Porque não lhes havia dito o Senhor que venceriam, senão que combatessem. E nessas derrotas quis castigar certo descuido e presunção que havia neles, e por esse meio humilhá-los. Mas quando finalmente lhes respondeu que venceriam, alcançaram de fato a vitória, embora com muita astúcia e trabalho (Jz 20,11s).
             São João da Cruz - Obras Completas - Editora Vozes - 1984 - pgs 258 - 260.
            Continua.
            In Iesu.
                                         

terça-feira, 20 de maio de 2014


Os últimos anos e a

Morte Gloriosa de Maria Santíssima.


         Antes de passarmos a descrever a propagação do reino de Deus entre os gentios, pelos Apóstolos, juntamos aqui a narração da piedosa Emmerich sobre a maravilhosa e gloriosa morte da Mãe de Jesus. Assim seguimos também a cronologia, pois a Santíssima Virgem morreu antes dos Apóstolos e estes estiveram presentes por ocasião da sua morte.


            Maria em Éfeso


         Depois da ascensão do Filho querido, viveu Maria, segundo a narração de Catharina Emmerich, três anos em Jerusalém e depois outros três anos em Betânia, em casa de Lázaro. São João, que sempre a acompanhava, levou-a para Éfeso, afim de a salvar da perseguição e ali viveu ainda nove anos.

         “Maria não morava propriamente em Éfeso, mas numa região onde já se tinham refugiado algumas das santas mulheres, suas amigas. A habitação de Maria achava-se numa colina, a esquerda do caminho de Jerusalém a Éfeso, cerca de três horas e meia de viagem, antes de chegar a Éfeso; a colina tinha uma subida suave, para o lado da cidade. Era uma região deserta, com muitas colinas férteis e belas, com grutas limpas, entre pequenas planícies arenosas; era deserta, mas não inabitável; havia muitas árvores isoladas, de troncos lisos e copas sombrias, em forma de pirâmide.

         Quando João trouxe a Santíssima Virgem para uma casa que lá mandara construir, já ali moravam várias famílias cristãs e algumas das santas mulheres, seja em grutas dos montes ou em subterrâneos, tornados habitáveis com alguma construção de madeira, seja em frágeis tendas; só a casa de Maria era de pedra.

         A Santíssima Virgem morava ali com uma jovem empregada. Viviam recolhidas em paz e sossego.
         João não morava na mesma casa; passava a maior parte do tempo em Éfeso ou arredores; fez também várias viagens a Palestina. Dava-lhe sempre a Santa Comunhão, rezava com ela a Via Sacra, dava-lhe a bênção e recebia-lhe também a bênção materna.

         No último tempo de estadia ali, vi Maria tornar-se cada vez mais recolhida no amor de Deus; quase não tomava mais alimento. Era como se só exteriormente estivesse na terra e com o espírito no outro mundo. Parecia não notar o que lhe acontecia em redor. Vi-a, nas últimas semanas antes da morte, já muito idosa e fraca e a criada a guiá-la às vezes pela casa.

         Uma vez vi João entrar lá. Tirou o cinto e vestiu outro, que tirou sob o manto e que era ornado de letras. No braço pôs uma espécie de manípulo e no peito uma estola. A Santíssima Virgem veio saindo do quarto de dormir, revestida toda de uma veste branca, apoiando-se sobre o braço da criada. Tinha o rosto branco como a neve e como que transparente. A saudade parecia trazê-la como que suspensa entre o céu e a terra. Desde a ascensão de Jesus, todo o seu ser tinha a expressão de uma saudade infinita e sempre crescente, que parecia consumi-la. Dirigiu-se, com João, ao lugar de oração. Puxou uma fita ou correia; então se virou o tabernáculo na parede e a cruz que lá estava, apareceu.

         Depois de terem ambos rezado, ajoelhados, por algum tempo, levantou-se João e tirou do peito um vaso de metal; abriu-o de um lado, tirou de lá um invólucro de lã fina e deste, um lenço dobrado, de estofo branco, do qual retirou o Santíssimo Sacramento, em forma de um pedacinho de pão branco. Depois disse algumas palavras solenes e sérias e deu a Santíssima Virgem a Sagrada Comunhão.

         Por trás da casa, até certa distância, na encosta da montanha, Maria Santíssima fizera para si uma Via Sacra. Enquanto morava em Jerusalém nunca deixara, desde a morte do Senhor, de percorrer-lhe o caminho da Paixão, chorando de saudade e compaixão. De todos os lugares do caminho onde Jesus sofrera, ela tinha medido a distância a passos: o amor imenso de Mãe extremosa não lhe podia viver sem a contínua contemplação desse caminho doloroso.

         Pouco tempo depois de chegar àquela região, eu a via diariamente caminhar até certa distância, subindo a colina atrás da casa, nessa meditação da Paixão e morte do Filho amado. A principio ia sozinha, medindo pelo número de passos que tantas vezes contara as distâncias dos lugares onde Jesus sofrera certos tormentos. Em todos esses lugares erigia uma pedra ou, se havia ali uma árvore, marcava-a. O caminho conduzia a um bosque onde, numa elevação, marcou o Monte calvário e numa gruta de outra colina, o sepulcro de Jesus Cristo.

         Depois de ter medido desse modo as doze estações da Via Sacra, percorria-a, em silenciosa meditação, acompanhada da criada; em cada estação da Paixão se sentavam, recordando no coração o mistério do respectivo sofrimento e louvando ao Senhor por seu Infinito amor, com lagrimas de compaixão. Depois arranjaram as estações ainda melhor e vi que a Santíssima Virgem escrevia com um buril, na pedra assinalada, a significação do lugar, o número dos passos, etc. Vi também, depois da morte da Santíssima Virgem, os cristãos percorrerem esse caminho, prostrando-se por terra e beijando o chão”.


            Viagens de Maria a Jerusalém


         “Depois do terceiro ano de estadia em Éfeso, Maria sentiu profundo e veemente desejo de ir a Jerusalém. João e Pedro levaram-na, pois, se bem me lembro, estavam ali reunidos vários apóstolos; vi Tomé; creio que era um Concílio e Maria assistiu-lhes com os conselhos maternais.

         No dia da chegada, ao cair da noite, antes de entrar na cidade, eu a vi visitar o Monte das Oliveiras, o Calvário, o santo Sepulcro e outros lugares sagrados, em redor de Jerusalém. A Mãe de Deus estava tão triste e tão comovida pela paixão, que só com extremo esforço podia ficar em pé e Pedro e João levaram-na dali, segurando-a pelos braços.

         Ela viajou mais uma vez de Éfeso a Jerusalém, ano e meio antes da morte. Vi-a então visitar também de noite os santos lugares, acompanhada pelos Apóstolos. Estava indizivelmente triste e gemia apenas, exclamando “Ó, meu Filho! Quando chegou a porta posterior, daquele palácio, onde se encontrara com Jesus caindo sob a cruz, tombou por terra, desmaiada, comovida pela lembrança; os companheiros julgavam que morresse.

         Levaram-na ao Cenáculo, em Sião, onde morava. Ali esteve a Santíssima Virgem, durante alguns dias, tão fraca e doente e teve tantos desmaios, que várias vezes lhe esperaram a morte e já pensavam em prepara-lhe o sepulcro. Ela mesma escolheu para este fim uma gruta no Monte das Oliveiras e os Apóstolos mandaram um escultor cristão fazer ali um belo sepulcro.

         Entretanto, o povo espalhava várias vezes falsas notícias da morte de Maria SSma. E esse boato de ter morrido e sido sepultada em Jerusalém propagou-se também em outros lugares. Mas quando o sepulcro ficou pronto, ela já se restabelecera e tinha força bastante para voltar para casa em Éfeso, onde, após ano e meio, faleceu realmente. O sepulcro preparado no Monte das Oliveiras foi sempre venerado e guardado, construindo-se depois sobre ele uma Igreja e João Damasceno escreveu também, baseado nesse boato, que Maria morreu em Jerusalém e ali foi sepultada.

         Deus permitiu que as notícias da morte, sepultura e assunção ao céu da Virgem SS. se conservassem apenas numa incerta tradição, para não alimentar no cristianismo o sentimento pagão daqueles tempos; pois muitos talvez a tivessem adorado como deusa.”


            Reunião dos Apóstolos, por ocasião da morte de Maria, em Éfeso


         Algum tempo antes da morte, rezou a SS. Virgem, para que nela se cumprisse o que Jesus lhe prometera no dia antes da ascensão, em casa de Lázaro, em Betânia. Foi-me mostrado em espírito, que quando ela lhe suplicou que depois da ascensão não a deixasse muito tempo neste vale de lágrimas, Jesus lhes disse vagamente quais as obras espirituais que ela devia ainda fazer na terra até a morte e, atendendo-lhe a súplica, prometeu-lhe que os Apóstolos e vários discípulos lhe assistiriam a morte; recomendou-lhe o que lhes devia então dizer e como os devia abençoar.

         Quando a SS. Virgem implorou que os Apóstolos se reunissem em torno dela, vi, em regiões muito diferentes e opostas, chegar o chamado aos Apóstolos; neste momento só me lembro do seguinte:
         Os Apóstolos já tinham construído pequenas Igrejas, em vários lugares, onde tinham pregado; embora algumas dessas Igrejas não fossem construídas de pedra, mas apenas de vime trançado e rebocadas de barro, todavia tinham sempre, todas que tenho visto, na parte posterior, a forma circular ou triangular, como a casa de Maria em Éfeso. Nessas Igrejas tinham altares e celebravam o santo sacrifício da Missa.

         Vi que todos foram chamados, inclusive os que estavam nas terras mais longínquas, recebendo por aparições a ordem de ir ver a SS. Virgem. Em geral não foi sem milagroso auxílio que os Apóstolos fizeram as longuíssimas viagens. Creio que freqüentemente faziam as viagens de uma maneira sobrenatural, sem eles mesmos saberem; pois muitas vezes os tenho visto passar no meio de grandes multidões de homens, sem serem vistos.

         Quando o chamado do Senhor se fez ouvir aos Apóstolos para irem a Éfeso, Pedro e se bem me lembro, também Matias, se achavam na região de Antioquia. André, que vinha de Jerusalém, onde fora perseguido, não se achava longe. Judas, Tadeu Simão estavam na Pérsia. Tomé encontrava-se na Índia, quando recebeu a ordem de partir, mas já resolvera ir a Tartária, mais para o norte e não pode decidir-se a abandonar esse projeto. Assim continuou o caminho para o norte, atravessando parte da China, até chegar a região onde agora é a Rússia; ali foi chamado pela segunda vez e partiu então as pressas a leste do Mar Vermelho, na Ásia. Paulo foi chamado. Foram chamados apenas os que eram presentes ou amigos da Sagrada Família.


            Os últimos dias de vida de Maria


         “Eu tinha muita convivência com a Mãe de Deus em Éfeso, conta Catharina Emmerich, a 7 de agosto de 1821. Fui com ela e cerca de cinco outras santas mulheres, percorrer a Via Sacra. Estava lá também a sobrinha da profetiza Ana e a viúva Mara, sobrinha da Santa Isabel. A SS. Virgem ia a frente de todas, senão o da intensa saudade, que a levava a união com o Filho, a glorificação.

         Maria era indizivelmente séria; nunca a vi rir, mas apenas sorrir de modo tocante. Estava emagrecida, mas não lhe vi rugas, nem sinal algum de velhice. Estava como que espiritualizada. Parecia ser a última vez que fazia a Via Sacra. Enquanto assim caminhava, parecia-me que João, Pedro e Tadeu já tinham chegado.

         Vi (a 9 de agosto) Maria deitada num leito estreito e baixo coberto por um dossel, em forma de tenda, do qual pendiam cortinas, a direita do quarto, atrás do fogão. A cabeça repousava-lhe sobre uma almofada redonda. Estava muito fraca e pálida e como abrasada de saúde. A cabeça e todo o corpo lhe estava envolto num longo pano. Um cobertor de lã parda cobria-a.

         Vi umas cinco mulheres, uma depois da outra, entrarem e saírem do quarto; pareciam despedir-se da moribunda. As que saiam, faziam com as mãos gestos de comovedora tristeza ou de oração. Vi novamente entre elas a sobrinha de Isabel, que tinha visto durante a Via Sacra.

         Depois vi seis Apóstolos já reunidos na sua casa, Pedro, André, João, Tadeu, Bartolomeu e Matias, como também um dos sete diáconos, Nicanor, que era sempre tão serviçal e amável. Os Apóstolos estavam reunidos em oração na parte anterior da casa, a direita, onde tinham preparado um oratório.

         Hoje (a 10 de agosto) vi entrar ainda dois Apóstolos, como as vestes arregaçadas, como viajantes, Tiago o Menor e Mateus.

         Os Apóstolos celebraram ontem, a noite e hoje de manhã o oficio divino, na parte anterior da casa. Diante do altar havia uma estante coberta, da qual pendia um rolo da Escritura. Sobre o altar havia candeeiros acesos e na mesa um vaso em forma de cruz, feito de uma substância que brilhava como madrepérola. Tinha apenas um palmo de altura e outro tanto de largura e continha cinco vasos fechados, com tampa de prata. No do meio se achava o SS. Sacramento. Nos outros, porém, crisma, óleo, sal e fibras (talvez algodão) e outras coisas santas. Os vasos foram feitos e estavam fechados de tal maneira, que não se podia derramar nada. Os Apóstolos costumavam transportar essa cruz nas viagens, pendente sobre o peito, debaixo do manto. Assim eram mais do que o Sumo Sacerdote, quando trazia sobre o peito o Santo do Antigo Testamento.

         Pedro, revestido do ornato sacerdotal, estava diante do altar, os outros atrás, em coro. As mulheres assistiam em pé, no fundo da casa.
         Vi chegar um novo Apóstolo (a 11 de agosto) foi Simão. Ainda faltavam Felipe e Tomé.

         Houve novamente oficio divino. Depois deu Pedro a SS. Virgem a Sagrada Comunhão. Levou-lha naquele vaso em forma de cruz. Os Apóstolos formaram duas fileiras, do altar até ao leito, inclinando-se profundamente, quando Pedro passou por entre eles com o SS. Sacramento. As cortinas do leito da SS. Virgem foram abertas de todos os lados.

         Diante do leito de Maria havia um banquinho baixo, triangular e sobre este, um pratinho, com uma colherzinha parda e transparente.

         Vi novamente (a 12 de agosto) o divino ofício; foi celebrada a Missa. O quartinho de Maria estava todo aberto. Uma mulher estava ajoelhada ao lado do leito, levantando e amparando de vez em quando a Santíssima Virgem. Vi fazê-lo também durante o dia e oferecer-lhe uma colher de suco de fruta do pratinho. Maria tinha um crucifixo sobre o leito, em forma de Y, tendo quase meio braço de comprimento; ela recebeu o SS. Sacramento.

         Vi hoje (a 13 de agosto) o ofício divino, como de costume e a Santíssima Virgem, durante o dia, sentada no leito, tomando várias vezes algum alimento, com a colherzinha.

         Vi os Apóstolos chegarem na maior parte muito fatigados. Ao entrar, abraçavam os que já estavam presentes, muito comovidos; alguns choraram de alegria e também de tristeza, pelo motivo tão doloroso daquele encontro. Aproximavam-se do leito de Maria, saudando-a respeitosamente; ela, porém, só poucas palavras lhes podia dizer.

         Vi também cinco discípulos e lembro-me mais vivamente de Simão, o Justo e de Barnabé.


            A morte gloriosa da Santíssima Virgem


         O ano 48 depois do nascimento do Cristo é o ano da morte de Maria; morreu 13 anos e dois meses depois da ascensão de Jesus. A morte da SS. Virgem foi um acontecimento cheio de tristeza, mas também de consolação. Já na véspera, pelo meio-dia, reinava grande tristeza e angústia em casa de Maria; a criada estava completamente desolada.
         A Santíssima Virgem descansava, silenciosa e como próximo da morte, sobre o leito. Estava toda envolta, até os próprios braços, num lençol branco. O véu do rosto estava dobrado sobre a testa; falando aos homens, puxava-o sobre o rosto. As próprias mãos só estavam descobertas quando ficava sozinha. Nos últimos dias não a vi tomar outro alimento, senão, de vez em quando, uma colherzinha de suco de uns frutinhos amarelos, semelhantes a uva, que a criada lhe espremia no pratinho, ao pé do leito.

         Quando a Santíssima Virgem, ao cair da tarde, sentiu aproximar-se-lhe o fim, quis despedir-se dos Apóstolos, discípulos, e mulheres presentes e dar-lhes a bênção, conforme a vontade de Jesus. As cortinas do leito foram abertas para todos os lados. Maria estava sentada no leito, como que transparente, de uma alvura resplandecente. Rezou e abençoou um por um, com as mãos postas em forma de cruz, tocando a testa de cada um. Depois falou ainda com todos e fez tudo quanto Jesus lhe recomendara em Betânia.

         A João disse como devia sepultar-lhe o corpo e distribuir-lhe a roupa entre a criada e outra moça pobre da vizinhança, que às vezes viera lhe prestar serviços.

         Depois dos Apóstolos, se acercarem do leito da Santíssima Virgem os discípulos presentes e receberam-lhe também a bênção do mesmo modo. Os homens retiraram-se então para o quarto anterior da casa e prepararam-se para o ofício divino, enquanto as mulheres presentes se aproximavam do leito da Santíssima Virgem, se ajoelhavam e recebiam a bênção. Vi que uma delas, inclinando-se sobre Maria, recebeu dela um abraço.

         Nesse ínterim foi preparado o altar e os Apóstolos vestiram-se para o ofício divino, com as longas vestes brancas, cingindo-se com as cinzas ornadas de letras. Cindo deles, que funcionavam no ato solene do sacrifício, como o vi celebrar por Pedro, após a ascensão de Jesus, primeiro na Igreja nova, perto do tanque de Betesda, revestiram-se das grandes e belas vestes sacerdotais.

         O ofício divino já estava adiantado, quando chegaram Felipe e um companheiro do Egito. Dirigiu-se imediatamente a Mãe do Senhor recebeu-lhe a bênção, chorando copiosamente.

         No entanto, Pedro acabara o santo sacrifício; tinha consagrado e recebido o Corpo do Senhor, dando-o também aos Apóstolos e discípulos presentes. A Santíssima Virgem não podia avistar o altar; mas estava sentada no leito, durante a santa cerimônia, sempre em profundo recolhimento. Depois de Pedro ter comungado deu a Santa Comunhão também aos outros Apóstolos e levou-a então a SS. Virgem.

         Todos os Apóstolos o acompanharam, em procissão solene. Tadeu ia a frente, com um incensório, Pedro levava o Santíssimo Sacramento no vaso cruciforme, sobre o peito. Seguia-se-lhe João, que trazia um pequeno prato, sobre o qual estavam o cálice, com o preciosíssimo Sangue e alguns vasos. A Santíssima Virgem estava deitada de costas, tranqüila e pálida, com olhar fixo para cima; não falava com ninguém e estava como em contínuo êxtase; resplandecia de saudade.

         Pedro aproximou-se e administrou-lhe o santo Sacramento da Extrema Unção, quase do mesmo modo com se faz hoje. Depois lhe deu o Santíssimo Sacramento. Sem se recostar, a Virgem sentou-se para o receber e caiu depois de novo sobre o leito. Os Apóstolos rezaram durante algum tempo e depois ela recebeu o cálice da mão de João, levantando-se um pouco menos. Vi como um fulgor penetrar em Maria, quando recebeu a Sagrada Comunhão e depois caiu em êxtase sobre o leito e não mais falou.

         Mais tarde se reuniram os Apóstolos novamente em roda do leito, rezando. O rosto de Maria estava risonho e fresco como na juventude. Dirigia os olhos com santa alegria ao céu. Vi então uma visão maravilhosa e comovedora. O teto por cima do quarto de Maria desaparecera; o candeeiro estava suspenso no ar; vi, pelo céu aberto, a Jerusalém celeste. Desciam dois planos brilhantes, como nuvens luminosas, nas quais apareciam muitos rostos de Anjos. Entre essas nuvens se derramava uma torrente de luz sobre Maria, acima da qual vi uma encosta resplandecente, que subia até a Jerusalém celeste. A Virgem estendia os braços, com infinita saudade e vi-lhe o corpo sagrado, com tudo o que o envolvia, erguer-se-lhe acima do leito, enquanto a alma, como uma puríssima forma luminosa, lhe saia do corpo, com os braços estendidos, erguendo-se na torrente de luz que, qual montanha resplandecente, se elevava céus acima.
         Os dois coros de Anjos, nas nuvens, se lhe uniram atrás da alma, separando-a do santo corpo, que no momento da separação recaiu sobre o leito, cruzando os braços sobre o peito. Seguindo a alma com o olhar, vi-a entrar, pela estrada de luz, na Jerusalém celeste e chegar ao trono da Santíssima Trindade. Vi muitas almas, entre as quais reconheci muitos patriarcas: Joaquim, Ana, José, Isabel, Zacarias e João Batista, lhe vieram ao encontro, com respeito e alegria. Ela passou, porém, no meio de todos, dirigindo-se ao trono de Deus e de seu Filho que, excedendo ainda com o esplendor das chagas a luz de toda a aparição, a recebeu com amor divino e lhe entregou algo como um cetro, mostrando-lhe o globo terrestre, como para lhe confiar um poder.

         Assim a vi entrar na glória do céu, esquecendo-me totalmente dos que lhe rodeavam o corpo na terra. Alguns dos Apóstolos, por exemplo, Pedro e João, devem tê-lo visto também, pois tinham o olhar dirigido para o céu. Os demais estavam de joelhos e inclinados profundamente. Tudo estava cheio de luz e esplendor, como na ascensão do Senhor.

         Vi com grande alegria, numerosas almas remidas do purgatório seguirem a alma de Maria, quando entrou no céu e também hoje, na festa da Assunção, vi entrar muitas almas no céu, entre as quais algumas que conheci. Foi-me dada a consoladora informação de que anualmente, no aniversario da morte da Santíssima Virgem, muitas almas que lhe tiveram devoção, participariam dessa graça.

         Quando tornei a olhar para a terra, vi o corpo de Maria resplandecente, com o rosto fresco, os olhos fechados, os braços cruzados sobre o peito, deitado sobre o leito. Os Apóstolos, os discípulos e as mulheres estavam de joelhos em roda do leito e rezavam. Enquanto eu via tudo isso, era como se soasse uma música deliciosa na natureza, que parecia comovida, como o tinha percebido na noite de Natal. Expirara, como observei, depois da nona, a hora em que morrera também o Senhor.

         As mulheres estenderam uma coberta sobre o corpo sagrado; depois cobriram a cabeça e velaram o rosto, sentando-se juntas no chão, no quarto do vestíbulo, onde fizeram a lamentação fúnebre, ajoelhando-se e sentando-se alternadamente. Os Apóstolos, porém, e os discípulos retiraram-se para a parte anterior da casa, cobriram a cabeça e celebraram um ofício fúnebre. Revezavam-se dois a dois, de joelhos, aos pés e a cabeceira do santo corpo. Mateus e André percorreram a Via Sacra da Santíssima Virgem, até a última estação, a gruta que representava o sepulcro de Jesus. Levaram consigo ferramentas, para escavar um pouco mais o leito sepulcral; pois ali devia ser depositado o corpo de Maria. Havia cerca de meia hora de caminho, da casa até a gruta.



            Embalsamamento e eterno de Maria


            Quatro vezes vi os Apóstolos se revezarem, fazendo guarda de honra ao corpo sagrado e rezando. Hoje vi chegar algumas mulheres, entre as quais me lembro ainda da filha de Verônica e da mãe de João Marcos, que vieram preparar o corpo para a sepultura. Trouxeram lençóis e especiarias, para o embalsamar à moda judaica. Cortaram os caracóis mais belos da Santíssima Virgem, como lembrança e enrolaram o corpo, dos tornozelos até o peito, em lençóis e faixas de pano, bem apertados.

         Os Apóstolos assistiam, nesse ínterim, ao sacrifício solene celebrado por Pedro, recebendo com ele a sagrada Comunhão; depois vi Pedro e João, ainda revestidos dos grandes mantos episcopais, entrar pelo vestíbulo e aproximar-se do santo corpo. João levava um vaso com ungüentos e Pedro, imergindo o dedo da mão direita no vaso, ungiu a testa, o meio do peito, as mãos e os pés da Santíssima Virgem, orando. Não era a Extrema Unção, que já recebera ainda viva.
         Pedro passou o ungüento sobre os pés e as mãos; a fronte e o peito, porém, assinalou-os com o sinal da cruz. Creio que foi para prestar homenagem ao corpo sagrado, como o fizeram também ao sepultar o corpo do Senhor.

         Depois dos Apóstolos terem saído, continuaram as mulheres o embalsamamento. Puseram tufos de mirra sob os braços, nas axilas e no epigástrico; encheram também com a mesma os espaços entre os ombros, ao redor do pescoço e do queixo e as faces. Os pés estavam também cobertos de tais tufos de ervas aromáticas. Depois lhe cruzaram os braços sobre o peito, envolveram o corpo na grande mortalha e enrolaram-no com a faixa sob o braço, como uma grande boneca. Sobre o rosto lhe estenderam um sudário transparente, através do qual se lhe podiam ver as faces alvas e resplandecentes, por entre os tufos de ervas. Depois deitaram o corpo sagrado num caixão, semelhante a uma cesta comprida e sobre o peito de Maria uma grinalda de flores de cor branca, encarnada e azul celeste, como sinal de virgindade.

         Então entraram todos os Apóstolos, discípulos e outros presentes, para ver mais uma vez o santo e querido semblante, antes de ser coberto. Ajoelharam-se, por entre muitas lágrimas e em silêncio, em roda da SS. Virgem, tocaram-lhe as mãos já enfaixadas sobre o peito, despedindo-se e depois saíram. As santas mulheres despediram-se então também, cobriram-lhe depois a santa face e colocaram a tampa sobre o caixão, que fecharam, atando-o nas duas extremidades e no meio com faixas cinzentas. Depois vi que puseram o caixão sobre uma padiola e Pedro e João transportaram-no sobre os ombros para fora da casa. Devem ter-se revezado, pois mais tarde vi que seis Apóstolos o transportavam.

         Parte dos Apóstolos e discípulos precediam, outros e as mulheres seguiam o caixão. Já estava anoitecendo: levavam quatro lanternas sobre paus.

         Assim seguiu o cortejo pelo caminho da Via Sacra de Maria, até a última estação e, passando em frente à pedra que a assinalava, sobre a colina, chegaram ao lado direito da gruta sepulcral. Ali depuseram o santo corpo; quatro levaram-no para dentro da gruta e puseram-no no leito escavado na pedra. Todos os presentes entraram ainda um por um, espalhando flores e ervas aromáticas e ajoelharam-se, oferecendo com lágrimas as suas orações; a tristeza e o amor fê-los demorar ainda. Já era noite, quando os Apóstolos fecharam a porta do sepulcro. Cavaram um fosso diante da entrada estreita da gruta e plantaram uma sebe de vários arbustos verdes, dos quais parte estava florescente e parte já tinha brotos e que haviam sido transplantados de outro lugar, junto com as raízes, de maneira que não se podia ver sinal da entrada, tanto mais quanto fizeram passar um pequeno córrego em frente dessa sebe. Não se podia mais entrar na gruta senão passando pelo lado, por trás dos arbustos”.
        

            A Assunção de Maria


            Os Apóstolos, discípulos e mulheres voltaram separados, demorando-se ainda aqui e acolá, rezando nas estações da Via Sacra; alguns ficaram também velando em oração perto do sepulcro. Ao voltar, viram de longe, por cima do sepulcro de Maria, uma luz maravilhosa e ficaram muito comovidos, sem saber o que era.

         Vi ainda vários Apóstolos e algumas santas mulheres rezar e cantar no pequeno jardim, diante do sepulcro. Descia, porém, uma larga faixa de luz do céu até o rochedo do sepulcro e nela vi um esplendor de três círculos, de Anjos e almas, que rodeavam a aparição de Nosso Senhor e da alma gloriosa de Maria. A aparição de Jesus Cristo, com os sinais resplandecentes das chagas, pairava diante dela. Em redor da alma de Maria vi no círculo interior a luz, figuras de crianças, no segundo círculo pareciam meninos de seis anos e no círculo exterior jovens adultos. Vi-lhes distintamente os rostos; o resto vi apenas como formas luminosas. Quando esta aparição chegou até o rochedo, tornando-se cada vez mais clara, vi dali até Jerusalém celeste uma estrada de luz.

         Depois vi a alma da SS. Virgem, que seguia a aparição de Jesus, passar para a frente e entrar através da rocha no sepulcro, do qual pouco depois saiu unida ao corpo glorificado de Maria, muito mais clara e resplandecente e voltou com o Senhor e todo o glorioso séqüito, para a Jerusalém celeste. Depois desapareceu todo o esplendor e se via de novo a luz pálida do céu estrelado, que se estendia sobre a região.

         Se os Apóstolos e as santas mulheres, que rezavam diante do sepulcro, também o viram, não o sei; mas vi que todos olhavam para cima, orando cheios de admiração; outros, porém, atônitos se prostraram, tocando com o rosto a terra. Vi também alguns que voltavam para casa, levando consigo a padiola, entoando cânticos e orações no caminho da Via Sacra e demorando-se diante das estações, olharem com grande emoção e fervor para a luz que surgira acima do sepulcro.

         Assim não vi a SS. Virgem morrer e subir ao céu de modo comum; mas primeiramente se lhe tirou da terra a alma e depois também o corpo.
         Mais tarde, regressando à casa, os Apóstolos e discípulos tomaram algum alimento e depois se deitaram para dormir.

        
            Abertura do sepulcro de Maria


            Hoje, à noite (15 de agosto), permaneciam ainda os Apóstolos em oração e pranto, na sala. As mulheres já se tinham deitado. Então vi chegarem o Apóstolo Tomé e dois companheiros. Um desses tinha o nome de Jonatan e era parente da Sagrada Família. Oh! Como ficaram aflitos, ao ver que tinham chegado tarde! Tomé chorou como uma criança, quando ouviu narrar a morte de Maria. Os discípulos lavaram-lhes os pés e deram-lhes de comer. Nesse ínterim acordaram as mulheres e se levantaram e depois de terem saído do quarto, conduziram Tomé e Jonatam ao aposento onde a SS. Virgem morrera. Ali se ajoelharam os recém-chegados, regando o lugar com as lágrimas. Tomé ficou ainda muito tempo de joelhos, rezando diante do pequeno altar de Maria. Comoveu-me indizivelmente a sua tristeza.

         Os Apóstolos, que não tinham interrompido a oração, depois de acabarem, saíram todos, para dar as boas vindas aos recém-chegados. Tomando nos braços Tomé e Jonatam, levantaram-nos, dois ainda estavam de joelhos e abraçando-os, levaram-nos à sala anterior da casa, onde lhes ofereceram pãezinhos e mel; beberam também de pequenos jarros e cálices. Rezaram mais uma vez juntos e abraçaram-se.

         Depois manifestaram Tomé e Jonatam desejos de ver o sepulcro da SS. Virgem. Os Apóstolos acendram lanternas, firmadas sobre paus e todos foram pelo caminho da Via Sacra de Maria, em direção ao sepulcro. Falavam pouco; demoravam-se algum tempo diante das estações, recordando-se do caminho da cruz do Senhor e do amor compassivo da Mãe SSma., que ali pusera as pedras comemorativas e tantas vezes as regara com lágrimas.

         Chegados ao rochedo do sepulcro, ajoelharam-se-lhes todos em volta. Tomé e Jonatam, porém, correram à entrada; João seguiu-os. Dois dos discípulos afastaram um pouco os arbustos diante da entrada e eles entraram e ajoelharam-se respeitosamente diante do túmulo da Santíssima Virgem. João, porém, aproximou-se do leve caixão em forma de cesta, que sobressaia um pouco do leito sepulcral, desatou as três faixas, que lhes fechavam a tampa e colocou esta ao lado. Então fizeram convergir a luz para dentro e viram, com grande espanto e comoção, os lençóis mortuários vazios, ainda na mesma posição em que lhe tinham envolvido o corpo. Sobre o rosto e o peito estavam abertos. Os envoltórios dos braços estavam um pouco soltos, mas ainda com as dobras; o corpo glorificado de Maria, porém, não estava mais na terra.

         Admirados, de mãos erguidas, olhavam para o alto, como se o santo corpo nesse momento houvesse aparecido e João bradou para fora da gruta: “Vinde e admirai, ela não está mais aqui!”. Então entraram todos, dois a dois, na estreita gruta, viram os lençóis vazios no caixão e, saindo, ajoelharam-se todos e, olhando, com os braços estendido, para o céu, choravam e rezavam, louvando o Senhor e sua querida Mãe glorificada, que lhes era também ma boa e fiel Mãe. Louvavam-no como filhos piedosos, exaltando-o com doces palavras de amor, como o Espírito lhes inspirava. Então se lembraram bem daquela nuvem luminosa, que viram de longe, ao voltar do enterro e que descera sobre o rochedo do sepulcro e depois subira ao céu.

         João, porém, tirou respeitosamente do caixão as mortalhas da Santíssima Virgem, dobrou e enrolou-as, para as levar consigo; depois colocou novamente a tampa sobre o caixão, atando-a com as faixas, como dantes.

         Saíram da gruta, fechando de novo a entrada com os arbustos. Rezando e cantando salmos, voltaram pelo caminho da Via Sacra, para a casa de Maria.

         Fecharam completamente a entrada do sepulcro da Virgem Santíssima, chegando mais os arbustos e firmando-os com terra; alargaram também o fosso. Limparam o pequeno jardim diante do sepulcro e ornaram-no; cavaram também uma passagem para a parede posterior do sepulcro e ali abriram com cinzel uma janelazinha no rochedo, pela qual se podia ver o túmulo,onde tinha jazido o corpo da Mãe Santíssima, à qual o Salvador, morrendo na cruz, os entregara todos e sua Igreja, na pessoa de João. Oh! eram filhos fiéis, obedientes ao quarto mandamento e muito tempo viveriam na terra, guardando o seu amor.

         A maior parte dos discípulos presentes já se haviam despedido. Também os Apóstolos se separaram. Bartolomeu, Simão, Judas Tadeu, Felipe e Mateus foram os primeiros que, após uma despedida comovedora, voltaram ao campo de ação. Os restantes, fora João, que ainda ficou mais tempo, dirigiram-se juntos à Palestina, onde depois também se separaram. Estavam lá muitos discípulos; também várias mulheres viajaram com eles de Éfeso para Jerusalém.

         Parece-me que o sepulcro de Maria ainda existe debaixo da terra; há de descobrir-se um dia.

Fonte: Extraído do Livro "Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus - Anna Catharina Emmerich - Ed. MIR.