sábado, 4 de janeiro de 2014

OS KIRIES E A CONVERSÃO DO CORAÇÃO


Das várias partes da Liturgia da Santa Missa, uma delas é o ato penitencial, que se dá logo no começo da liturgia e logo antes da Comunhão.
No ato penitencial temos os Kyries. Na liturgia Tridentina os Kyries se repetem por nove vezes, ao passo que na liturgia de Paulo VI se dizem ou se cantam por seis vezes. Depois da Consagração a "piedade" que se pede a Deus nos Kyries se pede novamente no Agnus Dei.
A palavra Kyrie eleison vem do grego, e significa "Senhor, tende piedade de nós!" E Agnus Dei vem do latim, e significa "Cordeiro de Deus".
O que acontece, quando os Kyries são pronunciados na Missa?!
Acontece exatamente aquilo que eles significam: Deus se compadece de todos aqueles que circundam o altar e por quem é oferecida a Missa.
Com Amor infinito Deus responde aos Kyries, da mesma forma que com a transubstanciação Ele responde à Consagração.
Na Missa a transubstanciação é apenas a manifestação sensível e eficaz de tudo aquilo que acontece na Liturgia.
Quando o Sacerdote pronuncia as palavras consecratórias ocorre o milagre da transubstanciação, segundo a regra "ex-opera operatur", que a Igreja ensina. Mas também, segundo essa mesma regra, quando se pronunciam os Kyries, Deus se compadece de todos. Dessa forma o "ex-opera operatur" atinge eficazmente todas as partes da Missa.
Nos Kyries da Missa Deus responde com um Amor infinito à toda humanidade, de tal forma que os Kyries atualizam o Amor Infinito de Deus.
Os Kyries atualizam, por assim dizer, o Mandamento Novo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
De fato, nos Kyries, o Mandamento do Senhor, "amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei", brilha de forma extraordinária.
Quando rezamos os Kyries, dizemos: "Kyrie eléison!", que quer dizer: "Senhor, tende piedade de nós!"
A liturgia me leva a pedir o perdão dos meus próprios pecados não no singular, mas no plural, como que chamando nossa atenção sobre o nosso próximo.
A liturgia volta nossa atenção sobre o próximo por uma questão muito simples: aquilo que se dá entre nós e Deus deve acontecer entre nós e nosso próximo: a reconciliação.
Não é à toa que esse rito penitencial é também chamado de rito da reconciliação.
A finalidade desse rito é não somente nos reconciliar com Deus, mas também com os irmãos.
Nos Kyries as inimizades perdem sua razão de ser. Quem, depois dos Kyries, ainda continuar cultivando as inimizades, não respondeu bem à sua oração, não se deixou plasmar pelo Amor infinito de Deus que se atualiza realmente na oração dos Kyries.
Quem crê firmemente que os Kyries atualizam, "ex-opera operatur", ào modo da Eucaristia, o Amor Infinito de Deus, deve também, necessariamente, se não quiser entrar em contradição, amar seu irmão.
De fato, se alguém reza "Senhor, tende piedade de nós!", deve corresponder às consequências de sua oração.
Deus infalivelmente se compadece daqueles por quem rezamos: "tende piedade." Ora, se Ele se compadece de todos os que estão ali, e em qualquer lugar onde estão aqueles por quem rezamos, seria um contra senso as inimizades.  Se nos Kyries obtivemos a misericórdia de Deus, segue que "em paz" devemos continuar rezando, conforme nos exorta a Divina Liturgia: "em paz continuemos a nossa oração."(cf.Div.Lit.S.João Crisóstomo). Ora, se cremos que Deus nos perdoou, também devemos crer que Ele perdoou os nossos irmãos, que assistem conosco a esta liturgia, daí o rezarmos no plural e não no singular os Kyries.
Nos Kyries todo ódio que nutrimos contra nossos irmãos deve dar lugar ao Amor de Deus que se atualiza de uma forma extraordinária.
Quais pecados ou quais defeitos de nosso próximo são a razão de nosso ódio e inimizade?
Pois bem, na Missa, Deus quer destruir nossos ódios, nossas razões, nossas inimizades contra nosso próximo. O Deus que ama um, ama também a todos, e quem diz amar a Deus, deve também, como diz São João Apóstolo, amar a todos.
Uma das consequências da oração dos Kiries é o amor ao próximo.
Portanto, rezemos ou cantemos bem os nossos Kiries, isto é, façamos bem os nossos atos penitenciais.
Não acho muito apropriado fazer os atos penitenciais ao som de melodias que se aproximam das músicas sertanejas ou algo parecido, também não é apropriado usar outras fórmulas de orações que não estejam prescritas no Missal.
Que o Espírito Santo Deus nos ajude a celebrar bem e melhor as nossas liturgias.