Esta belíssima Epístola é do XXº Domingo Postem Pentecostem e foi lida na Forma Extraordinária da Missa no Domingo de 06/10/13.
EPÍSTOLA (Ef. V, 15-21)
Léctio Epístolæ beáti Pauli Apóstoli ad Ephésios.
Irmãos: Tende cuidado em andar com circunspecção; não como insensatos, e sim como prudentes. Aproveitai o tempo, porque os dias são maus. Assim, pois, não sejais imprudentes, mas aplicai-vos a conhecer qual seja a vontade de Deus. E não vos embriagueis com vinho, do qual nasce a impureza; mas ficai repletos do Espírito Santo. Entoai salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e salmodiai ao Senhor em vossas orações. Dai sempre e por tudo graças a Deus, nosso Pai, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo. Deo grátias.
Com um coração cheio de Caridade São Paulo Apóstolo, que noutras vezes havia dito que "toda escritura é útil para ensinar, edificar, corrigir", não para condenar e discriminar, se dirige aos Efésios.
Essa Epístola nos revela um pouco de como era a Igreja dos primeiros tempos. Temos uma ideia de que nos primeiros tempos todos os cristãos viviam uma santidade extraordinária, sem nenhuma mácula, sem nenhum pecado. Essa Epístola nos revela que não é bem assim, como julgamos. Há uma lente jansenista que lê as escrituras de uma maneira idealista. Sim, os cristãos dos primeiros tempos eram santos, muito santos, como nós imaginamos, mas não eram diferentes dos de hoje.
Os mesmos pecados que existiam antes ainda existem hoje, e vice versa. A Igreja sempre foi, portanto, "santa e pecadora."
São Paulo não usava as escrituras para discriminar, censurar ou condenar ninguém, pois um coração pleno de Amor não condena nem despreza a ninguém, por mais pecador que seja, conforme os ensinamentos do Pseudo-Macário e de Isaac de Nínive.
Assim como hoje haviam pessoas insensatas e imprudentes na época, pessoas que dissipavam o tempo precioso com as frivolidades da época.
Se naquele tempo os dias eram maus, hoje não está longe disso, e podemos até afirmar que os dias de hoje não são melhores que os de antes.
Todas as crises de hoje estão resumidas nessa afirmação de São Paulo: "os dias são maus".
Qual é a vontade de Deus?
Outra coisa não pode ser que a prática do Mandamento Novo. Que mandamento é esse? "Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado!"
Quando um cego caminha em direção à um precipício prontamente é avisado por quem o vê em perigo de tropeçar, cair e se machucar. Esse aviso dado ao cego é um grande bem, pode-se dizer um grande favor, um grande ato de misericórdia. Os cegos ficam muito agradecidos com esse tipo de avisos, de alertas, pois são avisos que vindo do mais profundo coração servem de proteção para eles não se machucarem nalguma pedra.
Pois bem, os avisos de São Paulo nesta Epístola não são diferentes na intenção dos que são dados aos cegos, pois são avisos que são dados para o bem das almas e das pessoas.
Esses avisos eram públicos, o que indica que não eram discriminatórios, nem vexatórios, mas grande alento que animava e elevava os viciados da época.
Esses avisos eram públicos por causa de imensa Caridade que reinava entre os cristãos na época, caridade que fazia os pagãos exclamarem: "vede como eles se amam!"
Esses avisos de São Paulo curavam os vícios porque saído de um coração pleno de Caridade. Os vícios da época não eram matéria para discursos nem sentimentos vexatórios e discriminatórios, mas eram matéria que exercitavam mais o Amor e a Misericórdia.
São Paulo a ninguém desprezava, mas a todos amava, e com medo de perder os viciados pelo desânimo, os exortava a coisas melhores.
Quem tem verdadeira caridade cura seu próximo com palavras edificantes, quem tem uma caridade fingida não cura, mas somente ofende e despreza.
Quem é inflamado pela caridade e misericórdia diz mil vezes ou milhões de vezes para o próximo não pecar mais, e cura o próximo todas as vezes que caiu. Mas quem é inflamado de caridade não autêntica só despreza e condena.
O misericordioso busca em Jesus as razões para perdoar, os fariseus buscam as razões para condenar.
Deus não pode ser e não é motivo ou razão para odiarmos nosso próximo, Ele nunca nos ordenará ao desprezo, mas sempre ao amor.
O amor é um mandamento do Senhor exatamente por isso: os pecados causam abominação.
Segue então que as ações abomináveis desaconselhadas por Deus na Escritura servem para proteger ao pecador de ser abominado pelos outros.
Em Deus, puro amor, não existe a abominação.
Qualquer ação abominável não chega a atingir Deus, pois Deus é sempre o mesmo e nada pode causar n'Ele qualquer sombra de mudança, seu amor pelo pecador permanece mesmo durante e depois do pecado.
A abominação existe somente nas pessoas, não em Deus, razão pela qual Deus querendo proteger os pecadores do implacável juízo das pessoas os exorta a não pecar.
A caridade de Deus nos convida a vencer todas as abominações que sentimos contra os pecadores e amá-los sem medida, isto é, amá-los sem limites.
O senso de abominação não pode ser o limite de nossa caridade por nosso próximo pecador.
Quando pecamos todos imploramos "misericórdia" de Deus. Ora, se Deus, infinitamente santo, pode nos perdoar, por que nós que não somos mais que Deus nos arrogamos o direito de castigar nosso próximo com o nosso desprezo?!
Quanta arrogância e quanta contradição quando despedimos nosso próximo deixando-o nas mãos de Deus, para que Deus se vire com ele!
Então quer dizer que o próximo, por ser tão pecador, não é digno de me receber, não é digno de minha presença, pior ainda, não é digno de minhas palavras, de mim que sou pó e cinza, e é digno de Deus?!
Então quer dizer que empurro Deus! Deus pode e eu não posso?! Então quer dizer que se faz Deus que é Rei um simples peão que vai á nossa frente?!
Mas se não posso porque meu próximo não me merece, mas empurro Deus, Deus que resolva, não significa que me faço maior do que Deus?!
Se não merece minha atenção merecerá por acaso a atenção de Deus, infinitamente mais digno do que eu?!
Então tem Deus em pouca conta e a si mesmo em muitíssima conta quem não tem caridade nem misericórdia verdadeiras.
Se faz por atos mais do que Deus quem despreza a seu próximo, quem julga que seu irmão não é digno de sua palavra e atenção.
Quantas vezes não falamos com nosso próximo porque julgamos que ele não é digno de nossa palavra!
Todos nós somos pecadores, todos nós!
"Só a caridade salva e converte" disse São João Paulo II.
São João Paulo II, ora pro nobis.
In Iesu.